AS POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E PERMANÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR
Sarah Sanches
A presença de Universidades em municípios onde, antes, não havia cursos superiores, bem como a inclusão do ENEM como a modalidade de processo seletivo para a entrada nos cursos universitários, permitiu maior acessibilidade às academias em todo o país, o que resultou em novo fenômeno: muitos jovens recém-saídos do ensino médio, vindos da capital, dos municípios circunvizinhos e fora do estado, saíram das suas cidades e se afastaram do convívio familiar para morar em repúblicas, pensionatos e quitinetes.
Os jovens passaram, então, a enfrentar novos desafios, antecipando o desenvolvimento da sua autonomia e maturidade. A recém-formada em Engenharia Agronômica pela UFRB, Polianna Farias, que residiu cinco anos fora da sua cidade, acredita que as maiores dificuldades que se impuseram foram a distância dos familiares e o convívio diário com outras pessoas, até então desconhecidas. “Você acaba se tornando mais maduro, ganha mais responsabilidade, passa a respeitar mais as diferenças e o espaço do próximo para ter uma boa convivência e viver em um lugar agradável”, define a agrônoma como os pontos positivos consequentes destes enfrentamentos.
As políticas afirmativas, inclusivas e de permanência são suportes fundamentais não só para a entrada nos cursos universitários, mas para a possibilidade de leva-los adiante. Aqueles que vindos de situações adversas ou que se encontram historicamente privados de acesso ao ensino gozam hoje da oportunidade de obterem um diploma.
A recém-formada Ana Carolina Fernandes, ganhadora do prêmio discente destaque do curso de Agronomia no semestre 2013.1, foi bolsista do auxílio permanência durante quase todo o seu percurso acadêmico. “O auxílio moradia foi fundamental na minha vida. Nos primeiros semestres, eu dava banca, vendia bombons e trufas na Universidade, mas quando os semestres foram ficando mais puxados e eu precisei de mais tempo para me dedicar aos componentes e participar dos projetos e pesquisas, seria impossível continuar sem um auxílio. Não havia mais vagas disponíveis na residência universitária e eu já estava decidida a abandonar o curso por não ter mais como me manter, foi quando concorri pela PROPAAE ao auxílio pecuniário moradia e fui comtemplada. Há quem acredite que é mero assistencialismo, mas eu não teria chegado até aqui sem isso”.

Ana Carolina, discente destaque 2013 e mestranda em solos na Universidade Federal de Viçosa.
As dificuldades são múltiplas
Essa nova dinâmica acarreta, em alguns casos, não apenas a mudança do estudante, mas também de todo o núcleo familiar, de uma cidade para a outra, como é o caso de Rita Sanches, mãe do graduando Rafael Sanches. “Eu tive que vir para o interior por não ter como dar suporte ao meu filho estando na capital. Meu marido, mesmo aposentado, continua trabalhando na capital para que possamos manter nossos filhos na faculdade. A Universidade não dá suporte para todos: moradia, alimentação e permanência são dificuldades não só para as camadas menos privilegiadas, mas também para a classe média. Além disso, é difícil estar longe de casa e da proteção da família em tão pouca idade, muitas vezes não ter alguém com quem contar e por isso as portas da minha casa estão sempre abertas para todos os colegas do meu filho”. Conclui a aposentada ressaltando a importância da presença familiar no fortalecimento individual, na estabilidade emocional e na continuidade desta empreitada.
Os enfrentamentos não se encerram por aí, a Universidade, existente há pouco mais de sete anos, ainda sofre com problemas estruturais, de ensino, pesquisa e extensão e as próprias cidades de interior apresentam, por si só, inúmeras dificuldades: a precariedade dos transportes públicos, assistência médica e hospitalar de péssima qualidade, poucas possibilidades de lazer, baixo incentivo cultural e a supervalorização imobiliária devido a grande procura por parte dos estudantes e docentes vindos de outros lugares.
Contudo, apesar de todos os entraves que ainda necessitam ser superados, é inegável a importância do ensino superior gratuito em municípios dos interiores dos estados brasileiros, trazendo a possibilidade de emancipação de diversos jovens que, de outro modo, não poderiam estar nas universidades. A UFRB ainda necessita de muitas melhorias, bem como as cidades nas quais os campi estão situados, mas o papel social que esta cumpre é fundamental para a construção de um país mais justo e igualitário.